ONG luta para manter escolarização
de crianças e jovens com câncer
Imagine crianças — inclusive
recém-nascidas — e jovens enfrentando um câncer e tendo que parar de estudar e
ainda trocar os amigos, família e toda vida diária pela rotina hospitalar de
exames e quimioterapia em outro estado.
Nesse universo invasivo e cheio
de choques de realidade a Casa Hope, ONG localizada na Zona Sul da capital
paulista, se torna um ponto de luz. O espaço acolhe mais de 200 crianças e
jovens acompanhados de um responsável legal de todo Brasil e América Latina que
estão em tratamento em hospitais públicos contra o câncer e ainda
transplantados de fígado, rim e medula óssea.
São 196 quartos, cinco
alimentações diárias — só de carne há um gasto mensal de R$ 22 mil —, higiene
pessoal como fralda e sabão em pó para lavar roupa, transporte ida e volta a
hospitais, cursos profissionalizantes para o acompanhante, apoio psicológico,
teatro e o Centro Educacional Pró-Hope, escola reconhecida pelo MEC. Tudo oferecido
de forma gratuita pela Casa Hope que vive de doação e corre risco de ter parte
de suas atividades fechadas.
A
escolarização não pode parar
“Temos em mente que a criança
está doente ela não é doente. É uma fase e vai passar e ela vai se tornar uma
pessoa que vai buscar mercado de trabalho. A gente acredita na vida. Tentamos
incentivá-las porque são crianças carentes com realidades distintas”, explica
Janice Schmidt, coordenadora pedagógica da escola.
O Centro Educacional possui
brinquedoteca, educação infantil e fundamental I. Já o fundamental II e o
ensino médio estão desativados desde 2015 por falta de condições financeiras.
“Acho ótimo [a escola] porque
enquanto eles estão fora eles estão aprendendo aqui. Não perdem. Acho que a
escola que a casa criou ajuda bastante crianças. Só não dá para o Franklin
porque ele está no fundamental II, ele precisa estudar, mas aqui não está
tendo”, relata o indígena Cristino Anastácio Wapichana, pai de Franklin, 19
anos, que saíram de Roraima para o tratamento. “Eu fiz bastante curso aqui. Até
perdi a conta porque quase todo tipo fiz aqui. Fiz de informática, curso de
chinelo, curso de doce”, acrescenta o indígena da comunidade Pium.
No ritmo
de cada estudante
A escola funciona de manhã e à
tarde e se adapta à rotina hospitalar do aluno — e talvez esse seja o maior
diferencial. As classes são multisseriadas, cuja divisão não é por idade, mas
por grau de conhecimento. Há casos de jovens de 20 anos que chegam na Casa e
ainda não foram alfabetizados. Outro fator é que o aluno que possui imunidade
baixa por conta da doença e vive em isolamento a professora vai até o leito
dele. Janice revela que há uma criança que está há três anos isolada, tendo uma
rotina de hospital e quarto.
Hoje são quatro professores,
mas no passado já foram 13. Os encontros entre docentes ocorrem duas vezes por
semana. “Eu faço formação com os professores porque cada um tem suas dúvidas e
questões. Estamos sempre em treinamento porque eles precisam ter essa
flexibilidade e entender as necessidades das crianças. Muitas são sindrômicas,
que vêm com uma série de dispositivos como câncer no olho, dificuldade
auditiva, problema motor, câncer no cérebro, comprometendo o funcionamento
cognitivo”, detalha Schmidt.
Na região de origem a maior
parte dos jovens não vão à escola e quando frequentam são colocados de canto.
Eles ficam muito hospitalizados, o que gera atraso nos estudos. “Tem dias que
temos 15 alunos e tem dia que temos dois. Depende da rotina hospitalar e do
tratamento que a criança está fazendo. Não é uma escola regular”, explica a
coordenadora, que é psicóloga, pedagoga com especialização em pedagogia
hospitalar e MBA em gestão hospitalar.
Rotina
instável
Rosângela Ferreira André é mãe
do Lucas, que chegou na Casa Hope com 14 anos e hoje possui 21. Eles também
vieram de Roraima, mas da capital, Boa Vista. O jovem é transplantado renal,
deficiente físico e possui um transtorno mental, gerando uma mentalidade bem
abaixo da sua faixa etária. Há sete anos a vida deles é um vai e volta entre a
ONG em São Paulo e a casa em Roraima, a depender dos exames de saúde.
“Quando o Lucas conseguia ir
para a escola ele passava mal, tinha sonolência, diarreia, então eu não tinha
mais como manter ele na escola e acabei tirando porque se ele ficasse dois dias
na sala de aula era muito. Era metade do ano correndo para o hospital”, explica
a mãe. “E quando a gente veio para a Casa Hope foi quando ele conseguiu
acompanhar, estudar direitinho, conciliar os dias da consulta com os dias aqui
e a gente conseguiu avançar com o Lucas. Ele chegou aqui analfabeto mesmo. Não
sabia nem assinar o nome, não sabia ler. Sempre com muita
dificuldade. Hoje ele sabe ler e escreve texto”, detalha Rosa, como é
conhecida.
Por conta da rotina instável,
na aula o professor faz atividades que devem acabar no mesmo dia. O trabalho em
sala é coletivo só que com olhar individual, despertando interesse ao mostrar à
criança que ela é capaz de aprender. Além disso, não há provas, as avaliações
são diárias, afinal, “uma criança que fez quimioterapia está extremamente
debilitada. Como você vai fazer uma avaliação com uma criança dessas?”,
questiona Janice.
O Centro Educacional Pró-Hope
busca decentralizar a doença e chamar os jovens para brincar e seguir a vida.
“Enfrentar uma doença como essa tão invasiva, que você fica tão fragilizado não
é fácil. Nesse momento você levar isto para a criança: que sua obrigação é
brincar e estudar é um fator modificador de vida”, desabafa a coordenadora.
http://www.revistaeducacao.com.br/criancas-cancer-escola/
Comentário:
Eu
acho incrível esse tipo de ONG, pois eles fazem com que a vida de muitas
pessoas seja mais feliz.
Imagine
o quão difícil deve ser para essas crianças e para os seus familiares a rotina
que a doença impõe sobre eles. Essas pessoas que estão sofrendo tanto, acabam
buscando refúgios em institutos como esses, pois as pessoas que trabalham nesse
instituto vão fazer de tudo pra trazer o máximo de felicidade, educação e amor
a essas crianças. Eles levam esperança tanto para as crianças quanto para seus
pais.
Nós,
às vezes, não percebemos como esses poucos gestos são importantes na vida do
próximo, porém, é triste ver que essas instituições acabam precisando cortar vários
projetos, como o Ensino Fundamental II e o Ensino Médio, por falta de dinheiro.
Nesses
casos qualquer ajuda é importante para melhorar a vida de muita gente. Então,
ajudem essas pessoas tão humildes a trazerem mais felicidade a essas crianças.