Festival
de música na Suécia proíbe entrada de homens em protesto contra assédio e
violência sexual
“Este é o
primeiro grande festival de música do mundo sem a presença de homens, e que faz
uma denúncia contra todos os abusos sexuais em nossa sociedade. Queremos
simplesmente que mulheres, não-binários e transexuais sejam capazes de
participar de um festival de música e se sentirem ao mesmo tempo seguros”, diz
o comunicado do evento.
Para a
criadora do festival, a apresentadora de rádio e comediante sueca Emma
Knyckare, é razoável excluir os homens de um festival de dois dias de duração,
“uma vez que as mulheres são discriminadas durante todo o tempo”:
“Posso
entender as críticas, e o fato de que homens também gostariam de participar do
festival. Mas espero que eles possam compreender o propósito maior do festival,
e procurar outras atividades interessantes para ocupar seu tempo durante o
evento. Creio que a maioria dos homens também gostaria de ver uma mudança na
cultura de assédio”, disse Emma Knyckare à rádio sueca.
Agressões e estupros
O
festival foi organizado como um ato de repúdio aos crimes sexuais ocorridos em
festivais de música do país no verão passado. A edição de 2018 do Bråvalla - o
maior festival de música da Suécia - chegou a ser cancelada, por conta de
denúncias de quatro estupros e 23 casos de abuso sexual ocorridos em 2017.
“Fiquei
aborrecida com o fato de que o foco principal da mídia, ao noticiar os casos de
abuso sexual, eram sempre os imigrantes e o álcool, e não os homens em geral”,
conta a fundadora do evento.
A ideia
de criar o Statement Festival começou a tomar corpo a partir de um tuíte de
Emma, em que ela escreveu: "O que vocês acham de criarmos um festival em
que nenhum homem possa entrar, até que TODOS os homens aprendam a se
comportar?”
Organização solidária
A
resposta foi surpreendente. Na campanha de crowfunding lançada para financiar a
ideia, a meta era arrecadar 500 mil coroas suecas (cerca de R$ 230 mil) em um
mês. Mas em apenas 21 dias, a contribuição de três mil pessoas tornou o projeto
possível. O festival está sendo organizado pela Statement, uma entidade sem
fins lucrativos. E a própria direção do festival Bråvalla, que já havia
decidido cancelar o evento de 2018, se ofereceu para apoiar os preparativos.
“Mas o
objetivo principal é essencialmente conscientizar as pessoas sobre a
necessidade de acabar com a cultura do assédio, e fazer com que o Statement
Festival não seja mais necessário no futuro”, disse Emma Knyckare ao jornal
Göteborgs Posten.
Após o
anúncio da criação do festival, sete homens apresentaram queixas ao órgão sueco
para casos de Discriminação (DO), que chegou a anunciar uma investigação sobre
o caso.
Em uma
das queixas, um homem argumentou que não achava justo ser impedido de assistir
ao concerto da cantora sueca Frida Hyvönen - ao que os organizadores do
festival responderam que ele teria oportunidade de assistir a outros shows da
artista. Recentemente, o Ombudsman afirmou que não seria possível apresentar
uma conclusão sobre as queixas apresentadas antes da data marcada para o início
do festival.
Proibido para 'machos'
O palco
do Statement Festival será uma zona proibida para homens - não só o público,
como também os artistas e funcionários da organização do evento, serão
compostos por mulheres.
“Não se
trata de punir os homens, e sim de dar a mulheres e transexuais a oportunidade
de se divertir em um festival de música sem precisar ter medo”, argumentou Emma
em declarações à TV sueca. A única exceção à proibição da presença de homens
serão os transexuais masculinos.
“Assim
como as mulheres, os homens transexuais são frequentemente vítimas de assédio,
violência e ameaças. Formam portanto um grupo extremamente vulnerável, e por
isso são bem-vindos ao Statement Festival”, dizem os organizadores.
Entre os
artistas, participam do festival nomes como Frida Hyvönen, Joy, Beatrice Eli,
Maxida Märak e Tami T. Também estarão se revezando no palco algumas das
melhores comediantes suecas, como Nour El Refai e Petrina Solange.
“Uma
mulher de Kiruna (norte da Suécia) me disse que finalmente ela vai ter coragem
de ir a um festival de música, pela primeira vez desde Woodstock (em 1969, nos
Estados Unidos). É muito bom saber que podemos passar uma sensação de segurança
às mulheres”, disse Emma Knyckare ao jornal ETC Göteborg.
É
possível até, diz a fundadora do evento, que o festival já tenha cumprido parte
de seu objetivo:
“É
difícil afirmar o que for. Mas de qualquer forma, não tenho ouvido falar sobre
casos de violência sexual nos festivais de música deste verão na Suécia”.
https://g1.globo.com/pop-arte/musica/noticia/2018/08/31/festival-de-musica-na-suecia-proibe-entrada-de-homens-em-protesto-contra-assedio-e-violencia-sexual.ghtml
Comentário:
Achei essa reportagem bem curiosa e atual, pois
estamos vivendo um momento em que todos os problemas que a vida inteira
passamos com os homens, sobre assédio, estão sendo falados agora. Uma coisa
interessante sobre esse festival é que o objetivo principal dele, além de
protestar contra o assédio, é dar a segurança para as mulheres e transexuais
que eles não tem no dia a dia.
É triste
saber que as mulheres tem receio de sair na rua, por medo de serem
abusadas. É claro que sabemos que não
são todos os homens que praticam o assédio, o machismo e o estupro, porém,
infelizmente, ainda existe uma considerável parte de homens (principalmente),
acreditando que a mulher é um ser inferior e, por isso, não tem problema ser
abusada, desrespeitada e assediada.
Ao uma mulher sair de casa com um short mais curto,
o umbigo aparecendo e uma calça mais justa, ela tem que aguentar, “ elogios”
indesejados, toques desconfortáveis e olhares maliciosos. Em muitos casos, ela
pode ser estuprada e ainda ser culpada por usar uma roupa mais curta. Isso é um
absurdo porque ela pode usar o que quiser, a culpa é do homem.
Então, achei legal, apesar de muito inusitada a
iniciativa do festival, pois proporciona segurança e acaba sendo uma forma de
alertar aos homens que a mulher não é um objeto, muito menos inferior, do que
qualquer homem no mundo.