Enem: a
redação nota mil de um jovem com deficiência auditiva
RIO - O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou nesta terça-feira o espelho das redações do Enem 2016. Nesta edição, apenas 77 estudantes tiraram 1000, a nota máxima. Um deles foi Bernardo Lucas Piñon de Manfredi, de 19 anos, que passou para o curso de Filosofia na UFRJ e para a PUC-Rio, em 2º e 4º lugares.
A história de Bernardo, que optou pela PUC,
impressiona não só pelas excelentes colocações e a nota em redação, mas também
por ser um exemplo de superação. Ainda recém-nascido, ele foi o único que
sobreviveu a uma infecção hospitalar que matou mais de 90 bebês em uma
maternidade de Cabo Frio, na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro. Ficou, no
entanto, com sequelas: perdeu a audição e tem problemas motores nas mãos e nos
braços.
Aluno de escola pública no Ensino Fundamental viu
sua vida escolar mudar depois de conseguir uma bolsa para estudar no Colégio
Palas, na Tijuca. Lá sempre foi incentivado pelos professores a dar o seu
melhor.
Na última edição do Enem, Bernardo escreveu sobre
intolerância religiosa. Leia o texto abaixo.
Redação de Bernardo Lucas Pinñon de Manfredi, nota 1000 no Enem 2016
Sob o
olhar das raízes
O Brasil é mundialmente reconhecido por sua
diversidade religiosa. Ao longo da sua formação e com as influências externas e
internas, o país tornou-se um grande exemplo de miscigenação, evidenciando a
sua riqueza cultural. Porém, apesar desses fatos, o Brasil sofre com um grave
problema de intolerância religiosa, formado pelo reflexo de uma filosofia
etnocêntrica marcada nas raízes da sociedade brasileira. Como combater esta
realidade que implica na harmonia?
Primeiramente, é preciso entender que a
intolerância religiosa começa na educação, ou seja, na falta de conhecimento
das religiões. As famílias costumam seguir as religiões tradicionais, no caso o
cristianismo, e adotam uma filosofia etnocêntrica. Essa adoção é influenciada
por preconceitos históricos, como racismo, e baseada num processo radical de
"cristianizar" o Brasil. A partir disso, todas as outras religiões
são consideradas inferiores e acabam sofrendo um total desrespeito, sendo
vítimas de violência.
Além disso, é necessário analisar o choque entre o
Estado laico e o conservadorismo social. Apesar de o cidadão ser
constitucionalmente livre para escolher sua religião, os conservadores (muitos
deles políticos, padres e pastores) obrigam que tal indivíduo siga o ritual
referente, e pior, pregando atos fundamentalistas e modificando a conduta dos
fiéis. Há também uma silenciosa mistura de política com religião, fazendo
instensificar a intolerância por meio de discurso preconceituoso e
desmoralizador que afeta o olhar para as diferenças e o convívio entre elas.
Diante desse grave cenário é possível compreender
que a instolerância religiosa no Brasil está enraizada e deve, portanto, ser
combatida. É necessário implantar o ensino de religião em todas as escolas de
fundamental e médio formando os jovens dotados de conhecimento sobre a
diversidade religiosa no país e assim ajudar a combater a intolerância. Além
disso, deve-se criar ONGs de parceria com o Estado e a Unesco, fazendo valer a
laicidade e fornecer projetos culturais que influenciem um novo olhar das
pessoas, entendendo melhor as diferenças, e assim combater o radicalismo que
tanto prejudica a harmonia da sociedade.
http://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/enem-e-vestibular/enem-redacao-nota-mil-de-um-jovem-com-deficiencia-auditiva-21198208
Comentário:
Mesmo vendo
que esta matéria era do ano passado, quis fazer porque adorei saber que um deficiente auditivo
conseguiu a nota máxima de Redação no Enem, que é uma das matérias que tem maior
influência sobre a escolha da faculdade.
Eu fiquei
muito feliz também, porque na reportagem ele comenta que mesmo tendo estudado
todo o Ensino Fundamental em colégio público, onde, infelizmente, o ensino não é
tão bom, ele conseguiu atingir seu objetivo, passar para uma faculdade com uma
ótima colocação.
Aí vimos que
isso aconteceu porque os professores o incentivaram a todo momento, quando
conseguiu uma bolsa para estudar num colégio particular. Só que se pararmos
para pensar, ele fez toda a base do seu ensino em colégio público!
É muito
legal que um deficiente auditivo possa ter tantas oportunidades quanto um
pessoa sem alguma deficiência. Além disso, deu para ver que esse aluno conseguiu
aproveitar suas chances e acabou abusando delas... HAHAHA
Se todo
mundo tiver oportunidade, se os direitos forem dados a todos, teremos muitos
mais meninos e meninas que são deficientes ou que estudam em escola pública,
entrando nas faculdades.